segunda-feira, 30 de maio de 2011

Qual a real vantagem em ser sede de uma copa do mundo? Há que se investir recurso público na preparação desse tipo de evento? Se sim, em quais áreas ?

Há vantagens em ser sede de uma copa do mundo. Para a realização desse evento, há que se melhorar (e muito) a infraestrutura, de uma forma geral, das cidades sedes e das regiões próximas. Incluem-se aí, estradas, aeroportos, meios de transporte, hotéis, estádios e vias de acesso em geral. Se bem sucedidas, essas melhorias trarão benefícios não só para os turistas e participantes do evento em si, mas também para toda a população dessas regiões, pois serão permanentes. Além disso, serão gerados muitos empregos, direta e indiretamente. A exposição do país para o mundo trará maiores investimentos.

Porém, existem também desvantagens, pois grande parte dos recursos do país será direcionada para as cidades sedes, deixando-se de lado as demais regiões. Haverá também um grande transtorno para os moradores daquelas cidades, devido à simultaneidade das obras a serem realizadas, com prazo certo para a entrega. A falta de planejamento adequado também contribui para esses transtornos, afinal já se sabia que o Brasil seria sede da copa há cinco anos, e o atraso é evidente e inevitável. O investimento de recurso público também é inevitável, pois essas melhorias, em sua maioria, são de responsabilidade do Poder Público. Mas não podem ser esquecidos os demais setores, como a saúde, a educação, a cultura, o meio ambiente, essenciais à população. O foco não pode e não deve ser só nas áreas diretamente relacionadas ao evento, como, por exemplo, o setor de infraestrutura.

Cláudia Nunes da Silva
Guilherme Augusto Alves Lima
Juliana Silva Teixeira
Ricardo Barbosa Domingos

Veja abaixo alguns textos sobre o assunto em debate:

BHTrans lança pacote de licitações para melhorar o tráfego
Metrô superlotado irrita passageiros em BH
Estrangeiros apontam falhas de BH para receber a Copa de 2014
Metrô BH não é para Copa de 2014
São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2011




Fora dos trilhos

O leilão do trem-bala precisa ser adiado mais uma vez, até que o governo esclareça por que a obra é prioritária e se existe viabilidade econômica

Aproxima-se, mais uma vez, a data final para a entrega das propostas para o leilão do trem-bala que ligaria Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Repete-se, também, a desconfiança de investidores, especialistas e até integrantes do próprio governo quanto à viabilidade e à urgência do projeto.

A duas semanas do novo prazo -o leilão já fora adiado no final do ano passado- , apenas um consórcio, formado por empresas sul-coreanas, é tido como certo. Outras concorrentes se articulam, e uma nova interessada, a espanhola Talgo, pediu a prorrogação do prazo, para que tenha tempo de formular sua proposta.

Diante das dúvidas que se avolumam sobre o trem-bala, o melhor que o governo tem a fazer é adiar o leilão. O custo da obra, antes estimado em menos de R$ 20 bilhões, chega agora a R$ 33,1 bilhões, e mesmo esta cifra parece pouco confiável. O projeto de engenharia não foi concluído, e o valor das desapropriações no trajeto não passa de estimativa -entre outras questões que ainda carecem de respostas.

A própria extensão do envolvimento governamental na obra precisa ser questionada. Sairão dos cofres públicos, de pronto, R$ 3,4 bilhões para formação de uma nova estatal, que será parceira do projeto. Outros R$ 19,9 bilhões serão financiados pelo BNDES. Se nos primeiros anos o número de passageiros ficar abaixo do estimado -e nada garante que não fique-, até R$ 5 bilhões adicionais serão subsidiados.

Enquanto isso, a infraestrutura do país segue rumo ao colapso, com aeroportos superlotados, rodovias esburacadas e mal sinalizadas e portos defasados, com capacidade esgotada.

O governo está a dever um esclarecimento convincente sobre a razão para fazer da construção do trem-bala uma obra prioritária -tanto mais agora que promete ajuste fiscal de R$ 50 bilhões. Tem de explicar, também, como uma obra que o Palácio do Planalto diz ser viável depende em um grau tão elevado de patrocínio estatal.

Do modo como está, o trem-bala parece preencher apenas o desejo de colocar o país nos trilhos de um "Brasil Grande", a predileção por obras faraônicas que a sociedade prefere deixar para trás, com o período de governos autoritários em que floresceu.
 
São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011




TENDÊNCIAS/DEBATES

As obras para a Copa de 2014 no Brasil estão atrasadas?

SIM
É hora de a presidente entrar em campo

JOSÉ ROBERTO BERNASCONI

O Brasil foi escolhido pela Fifa como sede da Copa do Mundo de futebol de 2014, decisão anunciada em outubro de 2007, em Zurique, em cerimônia da qual participaram o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 12 governadores de Estado, representantes de ministérios e do Senado e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

Desde essa data, já decorreu longo tempo -quase três anos e seis meses. Estamos na metade do prazo, mas longe de termos concluído a metade das obras necessárias à realização da Copa e para deixar legado positivo para a sociedade.

Não é boa a radiografia atual das obras da Copa de 2014.

Boa parte das obras de infraestrutura geral ainda não deslanchou; quanto aos estádios, há situações muito preocupantes, como as de Natal e São Paulo. A maior cidade do país é a única que hoje reúne os requisitos e está predefinida para sediar o jogo de abertura da Copa, mas patina na construção do estádio com capacidade e condições para essa abertura.
Lembramos que o compromisso de realizar bem a Copa de 2014 foi assumido, em nome do país, pela autoridade máxima brasileira, o ex-presidente Lula. É, assim, compromisso de Estado para com a Fifa, com o Brasil e os demais países.

Ao assumir a Presidência da República, Dilma tornou-se a fiadora desse compromisso firmado pelo seu antecessor em nome do país.

Presidente Dilma: a senhora é a única pessoa com poder decisório e de mobilizar recursos, legitimidade e autoridade em relação aos demais ocupantes de cargos públicos envolvidos com a preparação do Brasil para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

É, por isso, quem pode cobrar celeridade no desenvolvimento de bons projetos executivos de arquitetura e engenharia, que contemplam as melhores opções técnico-econômicas e definem, entre outros, os cronogramas e os custos das obras. Os projetos executivos permitem aos administradores o total controle do andamento das obras, afastando improvisações e sobrepreços comuns em empreendimentos públicos.

Sem essa cobrança dos responsáveis por parte da Presidência da República, corremos cada vez mais o risco de os eventos de 2014 e de 2016 repetirem o de 2007.

Não pode ser esquecida a lição dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro -quando obras orçadas inicialmente em R$ 400 milhões transformaram-se em fantásticos R$ 3,7 bilhões e, pior, gerando só alguns ""elefantes brancos" e nenhuma melhoria na infraestrutura.

Isso porque faltaram planejamento, projetos executivos e gestão eficiente das obras do Pan-2007.

Estamos na metade do prazo para a Copa de 2014, e restam cinco anos para a Olimpíada de 2016.

Ainda podemos ter obras de qualidade, a custos adequados e no prazo exigido, desde que a senhora, presidente Dilma, exercite a sua liderança para que sejam desenvolvidos bons projetos e obras para estádios, aeroportos, portos, saneamento e mobilidade urbana, entre outros, e para que o país tenha um legado pós-eventos.

JOSÉ ROBERTO BERNASCONI, engenheiro civil formado pela USP, é presidente da regional São Paulo e coordenador dos assuntos da Copa do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e Engenharia).

NÃO

Faremos a melhor Copa da história

ORLANDO SILVA

A Copa do Mundo da Fifa 2014 é muito mais que a disputa de 64 partidas de futebol por seleções de 32 países. É um evento que produz oportunidades e que serve como catalisador para o desenvolvimento de quem a realiza.

A Copa é excelente plataforma para a promoção de nosso país em âmbito global. O mundo verá uma nação moderna e inovadora. Uma democracia forte. Um lugar marcado pela diversidade, pela tolerância e pela cultura de paz. Uma nação com economia complexa, estável, que permite desenvolvimento sustentado e forte política de inclusão social e distribuição de renda.

A Copa é compromisso de governos. As garantias governamentais oferecidas pelo país à Fifa têm sido cumpridas, inclusive com ajustes na legislação nacional.

A governança pública do processo de preparação do evento se funda num pacto firmado entre os entes federativos e fixado em uma matriz de responsabilidades. Essa matriz estabelece as atribuições de União, Estado, Distrito Federal e municípios, define orçamentos e cronogramas e é um documento público, o que permite transparência e acompanhamento por toda a sociedade.

A Copa tem ciclos de planejamento e trabalho. Já cumprimos o primeiro, selecionamos os projetos e viabilizamos o financiamento de ações de infraestrutura. São projetos para estádios, mobilidade urbana, aeroportos e portos que ora são executados.

O segundo ciclo incorpora outros temas fundamentais, como segurança, turismo, telecomunicações, energia, saúde e sustentabilidade ambiental. O terceiro ciclo tratará de temas operacionais do evento.

A Copa gera empregos. Estudo contratado pelo Ministério do Esporte estima que serão criados 330 mil empregos permanentes até 2014 e que o evento produzirá outros 380 mil empregos temporários.

A Copa tem dia e hora marcados para começar, e esse cronograma antecipa mudanças e investimentos que mais cedo ou mais tarde o país teria que fazer.

Aeroportos são um exemplo: além de disponibilizar todo o recurso necessário para a Infraero ampliar a capacidade do sistema aeroportuário, o governo faz ajustes institucionais e de gestão, o que significa reestruturar o comando da área, inclusive absorvendo maior participação do setor privado. Há expectativa, com tais mudanças, de acelerar o ritmo da atividade nessa área e de requalificar 13 aeroportos.

A Copa estimula a melhoria do transporte coletivo nas nossas principais cidades. São 54 projetos para aperfeiçoar a mobilidade urbana.

Aqui, o desafio do cronograma é urgente, pois 70% das obras começam neste ano. O governo federal garantiu o financiamento, e a execução está nas mãos de prefeituras e de governos estaduais.

A Copa deixará no Brasil estádios mais confortáveis e seguros. Os governos locais escolheram as arenas e o BNDES ofereceu uma linha de crédito para atender aos padrões da Fifa. Em dez cidades-sede, as obras estão em execução.

Natal finaliza a contratação da empresa que fará o seu estádio, enquanto São Paulo terá empreendimento vinculado a um clube local. Prefeito e governador dão garantias de que o estádio paulista estará pronto no prazo acordado.

Os preparativos para a organização do mundial de futebol aumentam o ritmo a cada dia. Trabalhamos para organizar a melhor Copa da história, um evento que deixe um legado que orgulhe os brasileiros. O país pode confiar.

ORLANDO SILVA é ministro do Esporte e coordenador do Comitê Gestor de Ações do governo brasileiro para a Copa do Mundo da Fifa 2014.